Sorri e o Mundo Sorri Contigo por Luísa Sargento

13 maio 2009

Estórias infantis


Como em todas as noites, ontem reli algumas das estórias que li em criança, o meu menino de olhar atento, tocava em algumas madeixas do meu longo cabelo, encaixando-as atrás da minha orelha, para lhe dar espaço a poder observar-me enquanto lia uma por uma as palavras daquelas três estóricas que ele acabara de escolher. Os três livros muito pequeninos, todos do mesmo tamanho, focavam pontos diferentes daquilo que foi construindo o ser que sou hoje e eu que ando a reler o Eu me Lembro do DeRose, pensava como gostaria de ter tido alguém que mo tivesse lido enquanto criança e como deveria começar a lê-lo ao meu menino ainda hoje ou será que talvez seja melhor que ele o descubra quando for maior, para que possa desfrutar de cada uma das linhas com a mesma intensidade com que eu as desfruto? Não sei, acho que também não me interessa... um dia destes apresento-lhe o livro que lhe dei ainda quando ele tinha apenas 2 anos.

Naquelas três estórias percebi porque sou como sou e, em cada uma delas, tive de conter a emoção, as lágrimas para não ter de explicar o porquê de estar assim. Sei que é pura parvoíce, o meu menino já me viu chorar por diversas razões, essencialmente de felicidade! mas também de descontentamento.

A primeira contava a história de um Jovem Rei cuja infância tinha sido vivida no seio de uma família de pobres pastores, assim o seu avô o desejara, quando subiu ao trono quis portar um manto e uma coroa dos materiais mais nobres e caros que havia no reino, mas durante a noite teve um sonho, um sonho que o atormentou e quando chegou o grande dia apenas vestia o seu casaco de pele e o cajado de pastor. Os seus súbditos quiseram destroná-lo, ameaçaram-no e quando chegou ao altar-mor uma luz intensa vinda de cima iluminou-o e, então, o padre disse: escuso de coroar-te porque já alguém o fez.

A segunda abordava a vida de um papagaio e do marinheiro seu companheiro que quis satisfazer a vaidade do seu amigo e, quando este envelheceu, ofereceu-lhe uma capa feita das mais belas penas para que este se mascarasse e ninguém se apercebesse que envelhecera. Só que as outras aves astutas perceberam que algo de errado estava ali e, um dia, tiraram-lhe a máscara com que se vestia e a realidade apareceu: nua e crua!

A última vou transcrevê-la amanhã, acho justo partilhá-la convosco... E enquanto isso mostro-vos uma passagem do livro Eu me Lembro, DeRose, Nobel e Uni-Yôga:

" As repreensões

Quando nós, crianças, fazíamos algo que não devíamos, meus pais e todos os mais velhos costumavam abraçar-nos de uma forma peculiar e ficavam quietinhos nos embalando. Com isso, já sabíamos que tínhamos feito algo que havia entristecido alguém. Aí, abraçávamos forte em retribuição, e isso significava que estávamos arrependidos pela nossa atitude. Quando a tristeza passava, começávamos a arrulhar e esfregar carinhosamente o rosto sobre o cabelo, ou sobre o peito do outro, e isso significava que a mágoa havia terminado. Essa era nossa maneira de admoestar as crianças e era também assim que os adultos manifestavam as suas rusgas conjugais. Não era costume entre nós contender verbalmente, acusar, ou esperar que o outro aceitasse sua "culpa" e se desculpasse; enfim, todas aquelas complexidades do relacionamento humano tão comuns noutras culturas. "

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