Sorri e o Mundo Sorri Contigo por Luísa Sargento

11 janeiro 2010

Reler um livro

É sempre agradável quando encontramos pessoas que concordam connosco e que também acham que reler um bom livro, é melhor que ler vários livros que nada nos dizem...



Por bom livro designo um livro que, de uma ou outra forma, me marcou naquele dado momento e relê-lo é perceber a minha história, aquilo que me vai cá dentro. Talvez quando o reler não entenda a razão de ter sido tão importante naquela altura mas, de certo, que o foi pois a vontade de reler mostra a importância que lhe dei... É como ouvir aquela música vezes sem conta e dançá-la como se fosse a primeria vez; tocar naquele rosto infinitamente; beijar aqueles lábios sem nunca querer parar e relembrar isso vezes sem conta...


"É no Outono que a gente é capaz de reparar como que a vida não é banal não obstante o nosso quotidiano ter sido de uma banalidade atroz. Acredito que é possível descobrir pedaços de luz no meio de tudo isso. São coisas destas qye me levam à convicção de que a vida para que fomos feitos não é, de modo nenhum, aquela que andámos a viver. Em rigor, o nosso destino poderia parecer trágico: por um lado, caminhamos inexoravelmten para a solidão, por outo, temos como futuro o esquecimento. Tenho muito a convicção de que somos seres em formação, pois o projecto humano não aponta para aqui.

(...) Uma das dificuldades que sinto em ser súbdito aplicado de uma religião é porque me parece que o homem tem um programa específico na terra. As religiões que conheço dizem-me, no fundo, uqe esta vida não interessa e que ela não serve senão para preparar a outra, o que leva à desvalorização total daquilo que vivemos eonde deixa de poder haver um programa e um fim que, de uma maneira específica, a isso diga respeito. Daí que, os que vivem as «virtudes» têm a tentação de esquecer que há valores para viver por aqui que pouco têm que ver com os «deveres» que nos impõem as religiões. Talvez por isso elas sejam todas muito tristes e eu tenho uma certa incapacidade de ver a tristeza como uma virtude.

(...) No entanto, lembro a Matilde com alguma saudade e, sobretudo, recordo constantemente a mulher com quem não casei: a Bárbara. Não há dúvida que, como já estou farto de dizer, o futuro depende da descoberta dos mecanismos dos afectos, mas a gente não anda a descobrir nada: andamos ajogar os mesmos elementos e sem nada que vá ao encontro de uma outra maneira de viver na relação de um homem com uma mulher. Isto, na prática. Em teoria há livros e livros sobre as relações amorosas mas poucos pensam nisto, de preservar a nossa autonomia, quiçá o nosso espaço, ligado a uma mulher. Mais: a repetição dos modelos paira no nosso inconsciente e, mal nos distraímos, lá vem a tentação de repetir o que nos ensinaram logo que nascemos. Foi o que me aconteceu com a Maria, já que a Bárbara, me tinha posto logo as coisas em termos de isso ser impossível. Mas eu nem pensei na lição da Bárbara. (...)"
Tecido de Outono, António Alçada Baptista

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